O Homem, o Poeta, o Escritor, um dos patrimónios literários de Portugal, de seu nome Miguel Torga

1907
Adolfo Correia Rocha nasce em 12 de agosto em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, distrito de Vila real, no seio de uma família de camponeses. Os pais (Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição de Barros) têm mais dois filhos: José, que cedo emigra para o Brasil, e Maria, que permanecerá na aldeia natal.
1917
Conclui, com distinção, o exame da instrução primária realizado na escola de Sabrosa. O professor aconselha o pai a mandar o filho estudar para o liceu. Dada a inviabilidade económica desta proposta, o pai coloca duas hipóteses: a ida para o seminário ou a viagem para o Brasil. A mãe, duvidosa da vocação sacerdotal do filho, manda-o para o Porto, onde ficará a servir na casa de uma família burguesa. Sentindo-se revoltado, e não vendo futuro na sua condição de criado, acaba por forçar o seu próprio despedimento.
1928
Inicia os estudos de medicina na Universidade de Coimbra. Passa a morar na república de estudantes "Estrela do norte", no nº 6 da Ladeira do Seminário. Adolfo Rocha publica o seu primeiro livro, Ansiedade, uma colectânea de poemas cujo título se revelará emblemático face ao que virá a ser o percurso literário do autor. O livro jamais será reeditado. Em 1981, quando organiza a Antologia Poética, Miguel Torga apenas recupera um verso do seu primeiro livro: "(...) Sinto o medo do avesso (...)".

1931
Publica o seu terceiro livro de poesia, Tributo. Estreia-se também na ficção narrativa com o livro de contos Pão Ázimo. Estas obras não serão reeditadas.

1932
Publica o livro de poesia Abismo.
1933
Adolfo Rocha conclui a licenciatura em medicina.
Coimbra, 8 de Dezembro de 1933
"Médico. Conforme a tradição, mal o bedel disse que sim, que os lentes consentiam que eu receitasse clisteres à humanidade, conhecidos e desconhecidos rasgaram-me da cabeça aos pés. Só deixaram a capa. E aí vim eu pelas ruas fora o mais chegado possível à minha própria realidade: um homem nu, envolto em três metros de negrura, varado de lado a lado por um terror fundo que não diz donde vem nem para onde vai." (Diário I, 1941).
Regressa a S. Martinho de Anta para aí exercer clínica.

1940
Miguel Torga é libertado a 2 de fevereiro, por decisão comunicada por telefone pelo ministro do interior à Delegação da PVDE de Lisboa.
Casa, em Coimbra, com Andrée Crabbé no dia 27 de Julho. Foram padrinhos de casamento os amigos Paulo Quintela e Martins de Carvalho.
Publica Bichos, um dos livros de contos mais originais da literatura portuguesa, que se afirmará como o maior êxito literário do autor.

1942
Publica o volume de contos Rua

1943
Publica o volume II do Diário e o livro de poemas Lamentação.
Dá ainda à estampa a novela O Senhor Ventura. Este livro será reescrito em 1985, ano em que sairá a 2ª edição refundida ("Pacientemente, limpei-o das principais impurezas, dei um jeito aos comportamentos mais desacertados, tentei, enfim, torná-lo legível"). O autor fará obsessivamente revisões dos seus textos; e muitos deles serão mesmo reescritos, como veio a acontecer com O Senhor Ventura, 42 anos depois de o ter publicado pela primeira vez.

1944
Publica o livro de poemas Libertação. Neste ano também dá à estampa Novos Contos da Montanha, um dos mais celebrados livros do autor.
Dois contos deste livro ("O caçador", "A caçada") reenviam explicitamente para a caça, uma das paixões de Torga.
S. Martinho, 3 de Outubro de 1949
Não consegui explicar ainda a causa deste sentimento de segurança que se apodera de mim quando me embrenho pelas serras à caça. É uma paz de preservação, de anonimato, de intangibilidade. [... ] Mas à solta por estas brenhas, em perfeito equilíbrio de alma e corpo, sinto-me na plenitude do ser normal, casado e harmonizado com o meio.
(Diário, V, 1951)
No dia 5 de Fevereiro, apresenta uma conferência sobre a cidade do Porto no Clube Fenianos Portuenses (texto que seria publicado, neste mesmo ano, com o título "O Porto", e que viria a ser integrado posteriormente no livro Portugal).
Sophia de Mello Breyner Andresen assiste a esta conferência e é apresentada a Miguel Torga pelo amigo comum Fernando Valle Teixeira. O encontro de Sophia com Torga foi decisivo para a escritora; na sequência do encontro, Sophia enviará 12 poemas ao autor de O Outro Livro de Job. Torga manifesta grande interesse em ler mais poemas e, neste mesmo ano, acabará por sair em Coimbra, em edição da autora, o primeiro livro de Sophia, Poesia. A amizade recíproca entre os dois autores perdurará ao longo dos anos; e será a situação de Torga, preso por causa de um livro, que levará Sophia, em 1969, a aderir como sócia fundadora à "Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos".
Pronuncia mais uma conferência ("Eça de Queiroz - um problema de consciência"), na cidade do Porto, no final do ano (24 de Novembro), no âmbito das comemorações do centenário do autor de Os Maias.
1945
PublicaVindima, o seu único romance.
A sua mulher, Andrée Crabbé Rocha, ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde passará a dar aulas.

1947
Publica Sinfonia, poema dramático.
Andrée Crabbé Rocha é demitida das funções de professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelas suas posições democráticas (por ter criado uma época especial de exames para os alunos que tinham feito greveno período normal da avaliação). Às razões políticas da sua demissão não terá sido alheio o facto de ser casada com Miguel Torga.
A 30 de Junho, o T.E.U.C. representa a peça Terra Firme, no Teatro Avenida, em Coimbra, numa encenação de Paulo Quintela.
1950
Miguel Torga publica Cântico do Homem, um dos pontos altos da sua poesia de intervenção. A este livro pertencem os célebres poemas: "Dies Irae" e "Ar Livre". É também neste ano que sai o volume Portugal, um livro admirável de viagem simbólica ao país e de interpretação da identidade nacional.
Realiza uma longa viagem de carro, durante mais de um mês, por Espanha, Itália e França, na companhia da mulher e do amigo Sebastião Rodrigues.
No Teatro da Universidade de Londres, é representada a peça Mar, com encenação de Ruben A., que também faz, neste mesmo ano, uma adaptação do espectáculo para a BBC.

1951
Publica o volume V do Diário e o livro de contos Pedras Lavradas. Faz-se representar nos "Encontros Europeus de poesia", em Knocke, enviando uma mensagem para ser aí ser lida. Neste texto, exorta os poetas a um activo comprometimento público em nome da poesia:
Coimbra. 24 de Julho de 1951
[...] Congresso, pois, de poetas, até para que seja mais clara em nós a consciência com que podemos e devemos, e a própria palavra nos comprometa como um juramento. Não simples convívio, mas um acto. Um acto de fé na poesia! Um compromisso público de que não a trairemos em nome de nenhuma tirania, de nenhuma urgência, de nenhuma conveniência.
[...]
(Diário Vi, 1953

1952
Publica Alguns Poemas Ibéricos. Segundo nota do autor, os poemas reunidos nesta colectânea foram maioritariamente escritos durante os anos de 1935 e de 1936. Outros poemas do livro tinham sido publicados no n.º 5 da revista Manifesto, Julho de 1938 ("Sagres", "A Largada", "A Espera", "O Regresso","O Achado", "Tormenta" e "Mar"), no n.º 5 da Revista de Portugal, Outubro de 1938 ("Ibéria", "A Raça" e "Santa Teresa") e no nº 8 da mesma revista, Julho de 1939 ("Viriato", "O Infante", "D. Sebastião").
1955
Publica Traço de União, um livro de ensaios de temática luso-brasileira, onde reúne as conferências pronunciadas no Brasil, no ano anterior, acrescentando outros textos relacionados com os dois pólos (Portugal e Brasil); e ainda evocações de escritores (José Lins do Rego e Ribeiro Couto).
Nascimento da filha única, Clara.
1956
Publica o volume VII do Diário.
A censura apreende o livro Sinfonia, que havia sido editado em 1947.
Morte do pai

1959
Publica o volume VIII do Diário.
Representação da peça Mar pelo CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), com encenação de Paulo Quintela (15 de Março).
No final do ano, Jean-Baptiste Aquarone, professor da Universidade de Montpellier, com o apoio de um grupo de intelectuais franceses, belgas e italianos, apresenta à Academia Sueca a candidatura de Miguel Torga ao Prémio Nobel da Literatura de 1960.

1960
No início de Janeiro, os jornais portugueses davam conta de duas candidaturas portuguesas ao Prémio Nobel da Literatura: Miguel Torga e Aquilino Ribeiro.
A candidatura de Torga é entusiasticamente apoiada por Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre O'neill, David Mourão-Ferreira, entre outros escritores e intelectuais.
No dia 20 de Fevereiro, os serviços da PIDE procedem à apreensão do Diário VIII, nas livrarias de várias cidades do país.
Um grupo de escritores e intelectuais apresenta um abaixo-assinado de protesto contra a apreensão deste livro. Subscrevem o protesto, entre outros, Fernando Piteira Santos, Pedro da Silveira, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues, Jaime Cortesão, Raul Rego, Armindo Rodrigues e Manuel Mendes.
A 25 de Fevereiro é levantada a ordem de apreensão do Diário VIII; contudo, a censura proíbe que na imprensa sejam feitas referências ao livro.
Neste ano, faz mais duas das suas "viagens meteóricas a Espanha", como regista no Diário. Em Abril desloca-se a Salamanca e a Madrid; em Junho vai a Mérida, a Trujillo e, de novo, a Madrid.
1962
Publica o livro de poesia Câmara Ardente
1964
Publica o volume IX do Diário.

1967
No dia 12 de Setembro, participa numa celebração do centenário da abolição da pena de morte em Portugal, realizada na Universidade de Coimbra. Miguel Torga lê na ocasião uma conferência, posteriormente editada numa brochura da imprensa da Universidade, que o autor integrará no volume X do Diário.
"Convidado a participar neste colóquio comemorativo da abolição da pena de morte em Portugal, é na dupla condição de poeta e de médico que estou aqui. O poeta representará, como puder, o ardor indignado e fraterno de quantos, de Villon a Victor Hugo, de Gil Vicente a Guerra Junqueiro, protestaram contra o iníquo pesadelo, e contribuíram para a sua extinção ou repulsa na consciência universal; o médico simbolizará, com igual modéstia, a interminável falange daqueles que foram sempre, e são ainda, em todas as sociedades, os inimigos jurados e activos de qualquer forma de aniquilamento humano".
No dia 15 de Dezembro, subscreve um documento de protesto, assinado por vários políticos e intelectuais portugueses, entre os quais Mário Soares, Francisco Sousa Tavares e Francisco Salgado Senha, enviado por carta ao Presidente da Assembleia Nacional. Pede-se aí a aprovação da Lei de Imprensa, a abolição da censura prévia e a possibilidade de interpor recurso para uma instância judiciária nas situações de apreensão de livros.
1979
A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra presta uma homenagem a Miguel Torga, associando-se às comemorações dos cinquenta anos de actividade literária do escritor. No âmbito da homenagem, realizada no dia 2 de Julho, presidida pelo Reitor da Universidade, foi inaugurada uma exposição bibliográfica sobre o autor.
No dia 19 de Agosto, profere um discurso sobre o homem duriense, no Salão Nobre da Casa do Douro, na Régua, no encerramento da Feira do Douro (texto inserido no volume XIII do Diário).

1981
Publica "O Sexto Dia" de A Criação do Mundo. Trata-se do último volume do romance autobiográfico (em 1991, Miguel Torga publicará uma edição conjunta dos volumes do romance, saídos ao longo de cinco décadas, desde o inaugural volume de "Os Dois Primeiros Dias", em 1937).
Neste ano publica também uma Antologia Poética organizada por si próprio.
Recebe o Prémio Montaigne, da Fundação PVS de Hamburgo.
Lisboa, 10 de Março de 1981
[...] É minha velha convicção de que a cultura universal tem de ser o somatório de todas as culturas nacionais. E que basta que falte uma parcela na adição para que a conta esteja errada. Foi, de resto, Montaigne que assim no-lo ensinou, redigindo a sua obra monumental no idioma materno, ele que o aprendera só depois de conhecer o latim cosmopolita.
(Diário, XIII, 1983)
1986
Grava poemas em estúdio para um disco comemorativo que irá sair no ano seguinte, por ocasião do octogésimo aniversário, na editora Valentim de Carvalho. O LP receberá o nome Oitenta Poemas.
Lisboa, 19 de Novembro de 1986
Gravação de um disco. Quatro horas fechado numa câmara de silêncio a declamar textos na penosa sensação de estar a fazer um registo a título póstumo como quem dita o testamento.
(Diário XIV, 1987).
1987
Publica o volume XIV do Diário.
Miguel Torga desloca-se a Macau para proferir uma conferência sobre Camões, no âmbito das celebrações do dia 10 de Junho.
Visita Hong Kong, Cantão e Goa.
1989
Recebe o Prémio Camões. Trata-se do primeiro autor a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O prémio é entregue em Ponta Delgada, no âmbito das comemorações do 10 de Junho, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República, Mário Soares.
Ponta Delgada, 10 de Junho de 1989
Uma vida longa dá para tudo. Para se nascer obscuramente em Trás-os-Montes, mourejar adolescente em Terras de Santa Cruz, percorrer, solidário, na idade adulta, os actuais paí-ses lusófonos em luta pela independência, visitar, alanceado, na velhice, o que resta do Oriente português, e receber agora, nestes patrícios e paradisíacos Açores, um prémio sob a égide de Camões. Nos intervalos, ser cidadão a tempo inteiro, com profissão tributada e deveres cívicos assumidos, e poeta rebelde, cioso da sua liberdade de criador, numa época atribulada, de guerras, tiranias políticas, campos de concentração, terrorismo, bombas atómicas e outros flagelos [...]
(Diário XV, 1990)
No dia 2 de Junho, é-lhe atribuída a condecoração de Oficial na Ordem das Artes e Letras, da República Francesa.
1990
Publica o volume XV do Diário.
É homenageado no Goethe Institut de Coimbra (23 de Novembro).
Já um dia afirmei em letra redonda que escrever é o supremo risco que um homem pode correr, pois se constitui réu num tribunal perpétuo, de que são juízes os leitores das sucessivas gerações. Ainda hoje estão sentados no banco judicativo os grandes e pequenos Homeros de todas as civilizações. Deus queira que eu não seja um dos candidatos à condenação final.
Recebe também uma homenagem na Academia de Coimbra (14 de Dezembro),no âmbito no VII centenário da fundação da Universidade.
O grupo de teatro "O Bando" encena uma versão dramática de Bichos (direcção de João brites). O espectáculo foi inicialmente apresentado no Convento do Beato, em Lisboa, tendo tido posteriormente representações em várias cidades do país e do estrangeiro.
1992
Recebe durante o ano diversas homenagens:
Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, na sua primeira edição.
Lisboa, 19 de Março de 1992
[...] Expus-me sempre nas montras timidamente, como um culpado contrito, quase a pedir desculpa aos ocasionais leitores do meu atrevimento. Embora ufano da vocação, nada mais pretendi do que cumpri-la, e ser humilde e livremente um fala-só que falasse por muitos.
[...] E sequei o tinteiro na mira de dar expressão local e universal a essa constante diversificada. [...]
(Diário XVI, 1993)
Prémio Figura do Ano, da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira (recebido no Estoril, a 8 de Julho).
Prémio Écureil de Literatura Estrangeira, do Salon du Livre de Bordéus. Este galardão é recebido numa cerimónia realizada na Câmara Municipal de Coimbra:
Coimbra, 14 de Setembro de 1992
[...] Tive palavras para escrever muitos livros, mas não me ocorre nenhuma que valha a pena em momentos cruciais como este. Tolda-se-me a voz, e só no silêncio fechado do coração consigo pagar a quem devo. É que a vida não cabe num discurso, por mais sincero e pensado. Misteriosa e imprevisível, confunde a lógica de qualquer engenho.
(Diário XVI, 1993)
Apesar das homenagens, este ano é marcado por um acontecimento doloroso:
O encerramento do consultório médico de Adolfo Rocha, no mês de Junho. Dessa mágoa nos dá conta Miguel Torga numa das anotações do Diário. Oferece o material cirúrgico ao Hospital da Misericórdia de Arganil, onde operou durante anos; e o mobiliário à Junta de Freguesia de S. Martinho.
Nos Estados Unidos realiza-se, no mês de Outubro, um colóquio internacional sobre Miguel Torga, na Universidade de Massachusetts, Amherst.
1993
Publica o volume XVI do Diário, comovente testemunho e impressionante reflexão do poeta face à doença e à aproximação da morte.
1994
De 3 a 5 de Março, realizou-se no Porto um Colóquio Internacional sobre Miguel Torga, uma iniciativa da Universidade Fernando Pessoa, com a participação de professores, investigadores, tradutores e escritores.
É transmitido na RTP2 o documentário "Torga" da autoria de Jorge Campos.
Recebe o Prémio da Crítica 1993 do Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários.
No dia 7 de Setembro, é agraciado pelo governo do Brasil, em cerimónia que decorre na Embaixada do Brasil em Lisboa.
Envia uma mensagem para ser lida na 1ª reunião do Parlamento Internacional de Escritores, realizada em Lisboa, no final do mês de Setembro.
Homenagem no Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados. Cunha Rodrigues, Procurador-Geral da República, profere uma conferência sobre as representações da justiça em Miguel To
1995
Miguel Torga morre a 17 de Janeiro, às 12h e 33m, no Instituto de Oncologia, em Coimbra. No dia seguinte, é sepultado em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.
Notas Finais
Indiscutivelmente um dos génios literários portugueses. De uma riqueza profunda, onde o Amor está presente como se da vida dependesse isso.
A sua presença, no seu país, é notória. Embrenhado sempre nas questões das suas gentes, onde as injustiças não tinham lugar. A própria liberdade não foi um custo maior, quando a critica se fez ouvir.
Rebeldia, poderia bem ser o seu maior significado, onde não teve pudor na tinta com que escreveu as suas obras.
Era um inconformado, empenhava a "espada" a cada injustiça revelada, não vivia bem nem comungava com os abusos de poder.
Médico de profissão, sempre foi contra a praxe e as tradições académicas, ousava chamar de "farda" à capa e à batina.
A sua genialidade elevou-se e com ela presenteou-nos na nossas aulas de português, quem não se lembra de "Os Bichos".
Merecedor de vários prémios, uns aceitou outros não, foi indicado a Nobel da Literatura, merecia-o.
Foi nas suas terras transmontana que exerceu a medicina, alternando-o com a literatura.
Partiu em 1995, deixou saudades, mas perdura nas páginas que quisermos desfolhar.
Pedro Albuquerque